sexta-feira, 14 de março de 2014

Horário Eleitoral e Debate Político


Em 2006 a Rede Pampa de Comunicações do Estado do Rio Grande do Sul me entrevistou para saber a minha opinião sobre o que seria melhor para o povo e para os candidatos. Como a entrevista é por natureza curta, apenas uma matéria com pontos principais e tópicos. Sendo que, muitas vezes informações valiosas são cortadas, vou ampliar um pouco mais aqui a informação que consta no vídeo ao final da página.

O que vale mais para uma disputa 

de cargo executivo?

Vale mais sempre o debate, isto é certo, o povo gosta de ver e ouvir a opinião dos candidatos, prefere isto em confronto direto que no horário eleitoral. Isto acontece porque a nossa legislação atual distribui o tempo gratuito de Rádio e TV de modo desigual para todos os partidos, na proporção do seu tamanho nas bancadas do Congresso Nacional. Deste modo, partidos menores possuem menos tempo de Rádio e TV e menos chance de obter apoio popular ou de crescerem, exceto eventuais fenômenos midiáticos, como foi o caso dos candidatos presidenciais Fernando Collor de Mello e Enéas Ferreira Carneiro, que ganharam projeção nacional com partidos pequenos. Suas imagens eram maiores que suas siglas. Enéas chegou a ser o terceiro lugar em uma disputa eleitoral nacional carregando a imagem de seu Partido da Reedificação da Ordem Nacional (PRONA), extinto após seu falecimento, pode-se dizer neste caso, que Enéas era o PRONA. Pelo PRONA Enéas se tornou posteriormente Deputado Federal por São Paulo, carregando com ele vários Deputados Federais de seu partido, por obter a redução do coeficiente eleitoral de seu partido, foi a maior votação em votos válidos para um candidato da história de São Paulo até então.

Outro caso, um pouco mais antigo e efetivo foi o de Fernando Collor de Mello, na sua primeira campanha para Presidência da República ganhou e se tornou o primeiro Presidente democrático do Brasil, logo após o período militar. Collor saiu candidato pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN), mas agora vem o fato curioso, Collor foi caçado por corrupção, foi o único Presidente brasileiro a sofrer Impeachment, logo após uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso Nacional (CPMI da Câmara Federal e do Senado). Isto ocorreu por que, no meu entender, Collor não tinha lastro político no Congresso Nacional, hoje ele faz parte do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), partido aliado do governo federal e um grande partido, mas na época, com um partido nanico, criado só para dar lastro a sua candidatura praticamente, sem apoio no Congresso Nacional, na primeira denúncia que aconteceu ele caiu, pois perdeu o apoio político do povo. Segundo consta, todos os processos que lhe foram instaurados foram derrotados judicialmente no Supremo Tribunal Federal, mas como a sua cassação foi política, em uma CPMI e com votação aberta na Câmara Federal, perdeu seus direitos políticos por oito anos.

Por que citei estas informações? O que isto interfere em uma disputa? Tudo! Sem lastro político governo algum é forte, candidatar-se sem um partido forte é supor que nossa imagem é mais forte que as estruturas políticas existentes e nem sempre isto é verdade. Muito embora se possa obter em alguns casos o poder, como nos dois casos supra citados, será muito mais complexo manter-se nele de modo estável e conseguir realizar tarefas administrativas sem uma forte base aliada que lhe dê lastro social e político.  Estes casos são emblemáticos, em um caso hipotético de um candidato sem partido no Brasil, provavelmente ocorreria o mesmo que ocorreu com Collor, o que provocaria, como foi o caso na época, instabilidade política e econômica nacional. Independente se ele é ou não culpado por conta de sua cassação, foi responsabilizado e pagou por seu suposto crime político, retornando ao poder como Senador da república, sendo hoje uma das principais lideranças de seu Estado. O PRN foi extinto, mas Collor aprendeu a lição e hoje faz parte de um dos maiores partidos do Brasil, possuindo agora grande espaço no horário eleitoral gratuito no Rádio e na TV, diferente do período em que foi candidato a Presidência Nacional.


No momento que Collor foi candidato, assim como, no momento que Enéas foi candidato a Presidência da República, ambos preferiam os debates ao horário politico para atingir seu público eleitor! Porque isto?  Simples o tempo desigual não lhes permitia debater de igual para igual com grandes estruturas partidárias, era preciso passar para o segundo turno para tornar este espaço equivalente e só então promover um debate equitativo. Esta é a luta de todos os pequenos partidos em disputas eleitorais pelo Brasil ainda hoje. O curioso é que, se ao invés de anular, votar em branco ou se abster, tais grupos votassem conscientemente em um só destes partidos, ele possível e provavelmente iria para o segundo turno, mas são raros os casos onde isto acontece.

Quando acontece, em alguns casos, promove situações inusitadas, após a promulgação da Constituição Federal Cidadã de 1988, ocorreu uma disputa eleitoral municipal que na cidade de Porto Alegre tinha, em seu horário eleitoral um partido nanico, com poucas prefeituras pequenas no interior e algumas na região de São Paulo. Todos os candidatos que disputavam diziam que acreditavam que o povo lhes colocaria para o segundo turno e que nele venceriam as eleições e de fato, as pesquisas da época diziam que estavam todos tecnicamente empatados, com um detalhe, ainda era alto o índice de indecisos sobre quase todos e isto fez a diferença no final. Um candidato sem experiência pública, por um partido sem força política e com pouco espaço no Rádio e na TV, ganhou esta eleição, seu nome era Olívio Dutra e através dele o Partido dos Trabalhadores (PT) obteve a primeira de quatro consecutivas administrações na cidade da capital gaúcha, criando assim lastro para sua escalada para o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e para a Presidência do Brasil. Ou seja, nunca subestime o valor dos votos conscientes, se tornados válidos, podem mudar a história de um país!

No caso de Olívio Dutra não foi a sua experiência que ganhou a eleição, foi a sua humildade diante da arrogância dos demais candidatos nos horários eleitorais, algo inesperado e que só as urnas revelaram, nem uma pesquisa retratou isto, foi decisão de última hora de cada eleitor, um fato inusitado e curioso, mas que mudou a história local, regional e nacional. Citei estes exemplos para mostrar que são muitos os fatores que envolvem uma disputa política, não basta querer ser candidato, é preciso pensar em tudo, minimizando erros ao máximo, se puder, evite sempre ser candidato de si mesmo, é óbvio, se não acreditas em tua candidatura ninguém acreditará também, mas, se só tu acreditares nela, algo de errado ali existe e o ideal é que não dispute, pois o teu índice de rejeição pode ser maior que o de aprovação e a menos que não se importem com o fato que seu partido pode perder espaço político com esta ação, o momento pode não ser o ideal para arriscar esta candidatura em casos assim.



Esta mesma humildade do Olívio Dutra o fez ganhar o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, frente o candidato Antônio Britto Filho, Britto acreditava estar eleito, apesar de haver um empate técnico entre ambos os candidatos, as pesquisas mostravam uma leve vantagem no segundo turno favorável a ele. Britto era do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) esquerda do período militar, era um dos maiores partidos do Estado e do Brasil, vinha de um governo do Estado exitoso e mesmo assim perdeu para o emergente PT de Olívio Dutra. Entre suas falhas de campanha, estava a constante arrogância do discurso que já tinha uma campanha vitoriosa antes mesmo do final da eleição e de aceitar dicas de seu marketeiro da época, como a de usar chapéu de palha na EXPOINTER, quando isto é parte de vestimenta de cultura paulista e não gaúcha. Contínuos erros criaram a sua rejeição e nas urnas o povo optou por votar não na melhor proposta, mas na menos arrogante, Brito perdeu para si mesmo.

Muitos marqueteiros vendem políticos como se vendessem um sabonete, óbvio, aprenderam nas escolas de marketing e de publicidade que o político é um produto qualquer, como qualquer outro e o vendem deste modo no horário eleitoral. Um erro estratégico básico, que em geral promove muitos gastos ao seu candidato e partido e poucos sucessos reais, afinal, só um vence e nem sempre é o de melhor "embalagem"! Arrogância não ganha eleição, em geral a faz perder. Contratar marketeiro para fazer o papel de um cientista político só vai lhe trazer mais despesas, é o barato que sai caro, pois investir errado só te fará cometer mais erros por mais tempo, não irá te garantir vitória alguma. Isto quer dizer que se contratar um cientista político vencerá certo? Não, quer dizer que terá menos chance de errar e mais cedo poderá chegar ao poder, pois seu índice de rejeição será menor e suas chances de aprovação aumentarão!

Mas então porque muitos marketeiros recomendam para alguns candidatos que não participem de debates políticos? Isto está errado? Depende, pode não estar errado, em alguns casos é o correto a ser feito de fato! Britto perdeu muitos pontos por conta dos debates, a cada debate que ele participava a sua sensação de vitória pessoal aumentava e com isto aumentava de fato o seu índice de rejeição, ao ponto que isto acabou se voltando contra ele em votos nas urnas. Sempre que houver uma possibilidade de que os confrontos diretos mais prejudiquem a imagem do candidato com mais chances de vencer, este deve evitar os debates para evitar fragilizar seu índice de aprovação. E quando o debate for necessário, que nunca se subestime nenhum dos demais candidatos da disputa. Marketing político não é o mesmo que marketing comercial aplicado na política, cuidado, podem estar lhe vendendo gato por lebre!


Quer uma boa campanha? Contrate bons profissionais, eles por certo são mais caros, mas o custo benefício é sempre melhor e as chances de cometer menos erros será sempre maior! Sucesso nem sempre vem de forma direta, mas quando vem é por merecimento e qualificação! Só lembrando, atualmente o PT está no seu terceiro mandato nacional, antes disto acontecer Luis Ignácio Lula da Silva (Lula) foi quanto vezes candidato antes de ganhar a primeira vez para Presidente da República do Brasil. Compare a sua primeira candidatura com a última, veja se é o mesmo discurso e postura, nem de perto, ele foi evoluindo, amadurecendo como candidato e sua experiência de vida o tornou Presidente de um país continental. Ele fez isto sozinho? Por certo que não, teve uma ou mais equipes qualificadas por traz, lhe assessorando continuamente, mesmo fora dos períodos eleitorais. Isto é marketing político, começa pelo menos quatro anos antes de sua candidatura, ou seja, você já pode estar atrasado se pretende ser candidato nas próximas eleições. Por favor, não confunda marketing político com campanha antecipada, isto é crime e pode impedir você de ser candidato no próximo pleito.

Se tiver alguma dúvida nos contate, fazemos marketing político assim como diferentes níveis de consultoria e assessoria, todas com CNPJ, ou seja, prestamos contas, para candidatos e para políticos já eleitos, independente do partido, cargo ou função que ocupem.

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