quinta-feira, 13 de março de 2014

Entrevista exclusiva com a Dra Maria Berenice Dias

Entrevista exclusiva com a 

Dra Maria Berenice Dias

JCV – Esta entrevista, por ser muito extensa, irá de forma integral ao Site e de forma fracionada nas edições do Jornal Impresso, por isto iremos separar ela em Títulos e publicar conforme o espaço disponível. Contamos desde já com a compreensão dos leitores, mas, caso queiram ter acesso a toda ela de uma só vez, poderão fazê-lo no site a qualquer momento e desde já!
 Grupos GLBT não assumem passeatas contra a corrupção nacional!
JCV – A Dra. Maria Berenice Dias é a pessoa mais influente junto aos grupos GLBT, do Brasil, ajudando na divulgação e na elaboração, do Projeto que vai criar as leis que irão regular esta questão junto ao Brasil. Como é que a Sra. está vendo os últimos acontecimentos nacionais, em relação, por exemplo, ao Congresso Nacional, o Deputado Feliciano nos Direitos Humanos? Muito bom dia! Como vai a situação neste sentido?
 MBD – Pois é, há uma mobilização nacional em busca de Direitos, o que tem me surpreendido muito e eu estou com uma campanha nacional neste sentido, é a falta do arco-íris nos manifestos, ou seja, a causa LGBT não está no alvo dos manifestos! Poucas manifestações, muito poucas neste sentido, com relação a manutenção do Deputado Feliciano na Presidência da Comissão de Direitos Humanos e eu acho que ele só está lá por que o Movimento não se movimentou . Não adianta ter o nome de Movimento e não agir! Por que, por iniciativa dos Congressistas, ele não cai! Há interesses! De que maneira? Por que a pauta dele é a pauta do nosso Congresso, quem não tem que se resignar, quem tem que fazer alguma coisa é o povo, que não está tendo acesso a Comissão de Direitos Humanos, ele está fazendo as votações a portas fechadas. Isto, não é uma causa de Democracia, muito menos de Direitos Humanos! Então eu creio que a gente deve aproveitar este momento, por que o Brasil tremeu! Pela primeira vez os políticos se deram conta que eles precisam ouvir a população e não agir independentemente do povo!
JCV – E a população que está indo para as ruas não abraçou a causa GLBT, apesar desta situação e o próprio grupo GLBT não se destacou, não se movimentou neste processo?
 MBD – Pois é né?! É uma opção que eu estou me ressentindo um pouco, tentando fazer a mobilização, eu tenho muitos contatos com o Movimento e as pessoas envolvidas. Já mandei mensagens, para mais de trinta mil dentro da minha rede, pedindo a todos que levem as bandeiras, mas teve só algumas na televisão.
 JCV – Sim, porque parece que eles eram contra bandeiras de partidos, mas isto não tem nada a ver com partido, é uma causa, uma causa justa inclusive, que é o direito das pessoas terem a opinião sobre como vão se comportar ao longo de sua vida.
 MBD – É e enquanto nós temos um segmento da sociedade, seja ele qual for, mas enquanto tivermos um segmento da sociedade que está fora da tutela do Estado, ou seja, não tem nenhuma legislação, nenhuma lei que articule seus direitos, nós não vivemos em uma democracia!
 JCV – E o Estatuto da Diversidade Sexual está sendo elaborado com a sua participação, é isto?
 MBD – É, eu sou a Presidente da Comissão da OAB Federal que elaborou este Projeto de Lei! É o Projeto mais completo do mundo! Não existe no mundo inteiro uma legislação tão ampla, assegurando todos os direitos e está sendo apresentado em forma de Estatuto, é a forma moderna de proteger segmentos numerários, como o Estatuto do Idoso, o Estatuto da Criança, o Estatuto Racial, então, está ai o Estatuto da Diversidade Sexual! Porque, não temos leis e não temos, ficam condenados a clandestinidade, por que não tem direitos garantidos. Com relação ao segmento LGBT quem tem assegurado direitos é só o Poder Judiciário, então, todos os avanços que se conseguiu e são significativos, ao longo de uma década, todos eles foram obtidos através do Poder Judiciário! Mas isto não é o suficiente! Não é suficiente por que precisa haver a Lei e as pessoas, enquanto não tem Lei precisam usar o poder da Justiça e a Justiça é que dá o Direito reconhecido. E talvez o mais grave de tudo, é que, enquanto não tivermos uma lei que criminaliza a homofobia a Justiça não pode fazer nada. A Justiça pode conceder direitos, a Justiça não pode punir atos de homofobia, por que não há lei, então ninguém pode ser condenado!
JCV – E este Estatuto vai passar pela Comissão de Direitos Humanos no Congresso Nacional?
MBD – Sim, ele tem uma tramitação normal, mas a idéia é fazer igual a Lei da Ficha Limpa, que foi por Iniciativa Popular.
JCV – Passa na Comissão de Direitos Humanos e na de Constituição e Justiça!
MBD – Sim, ela tem uma tramitação normal! Ela não pode ser arquivada, por exemplo, se o Relator não é eleito e estas Comissões não podem arquivar um Projeto que vem por Iniciativa Popular! Eu acho que tem todo um simbolismo, uma neste sentido!
JCV – A última instância dela seria, no caso, a votação do Plenário?
MBD – No Plenário da Câmara!
JCV – Mesmo com posição contrária das Comissões?
MBD – Mesmo com a posição contrária das Comissões!
 Brasil não é democraticamente laico, afirma Maria Berenice Dias!
JCV – Que é uma tendência diante da tendência, diante das posturas do Presidente da Comissão atual?
MBD – Pior do que isto é o número cada vez mais crescente e eu diria assustador, destas chamadas bancadas evangélicas, extremamente radicais, que no nosso Congresso já tem mais de oitenta, oitenta e seis na última eleição. Que são muito ativos, muito organizados, tem muito dinheiro, não pagam Imposto de Renda e querem tomar conta do poder! E estão avançando, já tomaram conta dos Conselhos Tutelares.
JCV – Eles tem muito dinheiro exatamente por conta disto, por não pagarem Imposto de Renda!
MBD – E eles fazem uso, se escondem atrás de Prefeitos, alegadamente religiosos que geram um certo fanatismo e as pessoas movidas pela fé acabam se fanatizando. Então, se o Pastor manda os seus seguidores votarem em determinada pessoa, eles votam, se mandam não votar, eles não votam. Foi assim que eles tomaram conta dos Conselhos Tutelares aqui no Rio Grande do Sul, por que a votação não é obrigatória.
JCV – Sim, é voluntária!
MBD – E eles votam por que o Pastor mandou!
JCV – Tomaram conta dos Conselhos Tutelares do Rio Grande do Sul?
MBD – Isto é assustador!
JCV – Extremamente assustador!
MBD – Nos Presídios, eles tem trânsito livre e também acabam criando pessoas absolutamente fanáticas, que fazem o que a Igreja manda e se escondem atrás do nome do Senhor e de Deus.
JCV – Mas, na verdade é o Pastor que, muitas vezes tem envolvimento até com setores que não são muito confiáveis, digamos assim?
MBD – Tanto é que a quantidade de escândalos envolvendo Pastores que a gente toma conhecimento na mídia e depois assim, não tem o porquê de haver uma Bancada Evangélica!
JCV – Se a gente for um país laico não, né?!
MBD – As pessoas têm os Partidos!
JCV – É democrático que as pessoas tenham uma candidatura e que possam ser eleitos, isto sim, como qualquer pessoa.
MBD – Porque a sociedade não diz respeito a uma só religião, ela respeita todas elas!
JCV – O problema é impor uma religião sobre as demais, é isto?
MBD – Nazismo, sem dúvida nenhuma! Vamos entrar em uma Ditadura, acredito muito, temo muito que as minhas netas tenham que usar burca. Se os Pastores pedirem para elas usarem burca ou véu, elas vão usar!
JCV – E tem um boato, pois isto é uma coisa estranhíssima, pois tentamos verificar a PEC no Congresso Nacional, através do Site do Congresso, a PEC 99 de 2011 e se apresentava na página com “Problemas Técnicos”, curiosamente, esta Lei 12.830, que foi recentemente sancionada no Congresso Nacional, estava na mesma situação, ela estava desaparecida no Site, não era possível ser visualizada e no momento que foi visualizada ela foi imediatamente sancionada pela Presidente, no período da Copa das Confederações, então é curiosamente um erro técnico exclusivo em algumas de visibilidade dentro do Congresso Nacional. A PEC 99 fala sobre a presença da Igreja Evangélica na votação, ter a presença de religiosos, tipo uma censura, “consulta”, uma consulta religiosa e por eles deveriam passar as legislações para analisar!
MBD – Nossa!
JCV – Então, isto que a Sra. está falando, se proceder, quer dizer, a gente não conseguiu ainda ter a comprovação técnica desta situação, por conta de não acesso a legislação, por erro técnico do Site do Congresso, mas, já existem comentários a respeito disto na Internet e como está sendo bloqueado o Acesso a Informação, que é um Direito Constitucional, e além de ser um Direito Constitucional está regulado por uma nova Lei, neste aspecto, Lei de Acesso a Informação, nós não estamos tendo acesso a esta informação, então o que a Sra. está nos passando de dados ou de opinião, ou de informação a respeito disto corrobora com o argumento que a gente está buscando neste sentido, ou seja, não é teoria conspiratória, é um fato!
MBD – Sim e depois assim, todos os políticos acabam se rendendo aos segmentos religiosos, tanto que, quando a Maria do Rosário começou a apoiar estes movimentos LGBT ela foi ameaçada pelo Marco Feliciano, cuidado, por que estão para chegar as eleições! E que avisasse para a Dilma, que neste país só se elege quem as Igrejas “permitem”! Sem o apoio da Igreja ninguém é eleito!
JCV – A Sra. viu esta declaração?
MBD – Está na Internet! A gente viu na última eleição para a Presidência da República que os dois candidatos, se renderam, se venderam para as Igrejas Evangélicas.
JCV – É, na verdade, é um fator fundamental! Tu realmente não consegues ter a votação necessária para se eleger nada no Brasil, sem o apoio de segmentos religiosos, especificamente cristãos.
MBD – Eles se juntam, Evangélicos, que são mais organizados, católicos e conservadores, porque tem muita gente conservadora no Brasil.
JCV – Há uma tendência conservadora no Brasil? O Brasil seria um país conservador, por isto a dificuldade?
MBD – Sim, as pessoas são conservadoras! As pessoas possuem muita dificuldade de conviver com o novo, por que o novo é desconhecido e tudo que a gente não conhece a gente tem medo. Todo mundo tem medo da morte porque não sabe o que vai acontecer, tem gente que tem medo do escuro! Então, qual é o espaço seguro, o local seguro, de conforto? É o do conhecido! Então, se eu estou aqui eu estou seguro, estou acomodado! Então, se eu me movimento para fora, por exemplo, em relação aos costumes, sempre há aquela tendência de que antigamente é que era certo!
 
Bissexuais sofrem preconceito de homossexuais e heterossexuais 
e bigamia não é causa GLBT, afirma Maria Berenice Dias!
JCV – Duas questões, voltadas especificamente para a área do grupo GLBT. Em época de Faculdade eu fiz uma pesquisa, dentro do grupo, por curiosidade, em uma cadeira de Psicologia Social e eu percebi que havia um preconceito, tanto do grupo de homossexuais, como os de lésbicas, em relação a bissexuais, havia realmente uma situação neste sentido. Isto permanece, continua havendo, há um preconceito? Pode se dizer, existe, digamos assim, um conservadorismo dentro dos próprios grupos?
MBD – É que o Bissexual, ele afronta o modelo binário, que é assim, ou tu é homem ou tu é mulher, ou tu usas rosa ou tu usas azul, mesmo antes do nascimento as pessoas já estão pré-destinadas, ou a usar brinco ou a ter que jogar futebol e não chorar.
JCV – Homem que chora é “bicha”?!
MBD – É “bicha”! Menina que gosta de brincar de carrinho é “sapata”!
JCV – São preconceitos, pré-concebidos!
MBD – É, são estereótipos, sistema binário, certo ou errado, branco ou preto.
JCV – Isto ocorre também no mundo GLBT?
MBD – Sim! Então o Bissexual afronta isto, ele transita entre os dois gêneros e isto é assustador para as pessoas!
JCV – Inclusive para o próprio grupo GLBT! E a segunda questão seria a seguinte, em algumas culturas ao longo do mundo há a questão de um casamento com várias mulheres ou uma mulher com vários homens.
MBD – Que é mais raro!
JCV – Raríssimo de fato, no mundo me parece que tem um ou dois países que tem esta situação, mais no Continente Africano, tem alguma coisa neste sentido, mas a questão seria mais cultural ou religiosa do que qualquer outra coisa. E no momento que existe agora a possibilidade de adoções por casais homossexuais, gays ou lésbicas, também a bigamia pode entrar em conflito direto com relação a discussões religiosas no Congresso Nacional, seria um avanço do ponto de vista sociológico, por que impediria, por exemplo, uma boa parte dos processos que hoje existem em relação a separação. Não haveria a necessidade de separação quando houvesse o consenso, “Olha, vamos casar com mais outra pessoa!” Digamos assim e seria outro projeto do grupo GLBT também, porque permitiria a relação com mais de uma pessoa.
MBD – É, eu não gosto muito de rotular estas que se chamam de Uniões Poli-Afetivas, mais do que duas pessoas, identificar com o movimento LGBT. Acho que as pessoas, por terem relações simultâneas com mais de uma pessoa, não necessariamente possuem uma relação sexual com um homossexual no meio.
JCV – Sim, eventualmente, dentro da lógica seria isto.
MBD – Não necessariamente.
JCV – Mas pode acontecer, é bem provável que ocorra!
MBD – Não, para mim este é um segmento separado do segmento LGBT.
Segundo Maria Berenice Dias, deve sim haver protesto contra a vinda do Papa ao Brasil.
JCV – Não será uma bandeira do Movimento, até o momento não é?
MBD – Não, porque não justifica muito, é uma bandeira autônoma, não vejo porque a gente tem de repetir sempre aquele modelo e ai tem uma influência religiosa muito grande, de casar, ter filhos, até que a morte nos separe, a idéia de procriação está sempre ligada a idéia de casamento, mas isto, por influência de ordem religiosa, que é a religião que quer que as pessoas se multipliquem, para aumentar o número de seguidores. Basta ver a última declaração do Papa, assustadora, incentivando as pessoas a terem mais filhos, em um mundo onde há superpopulação ser contra o controle da natalidade é quase um crime contra a humanidade o Papa fazer uma declaração tão irresponsável quanto esta.
JCV – Ele está vindo agora para o Brasil, onde vai ser mais um dos gastos públicos, enorme, exorbitante.
MBD – Agora eu quero ver o movimento que vai haver contra isto!
JCV – Pois é, eu não sei se vai haver algum movimento. Teria que ter?
MBD – Com certeza! Eu não vejo o porquê de toda esta movimentação para sediar o encontro dele, acho que isto caba acarretando um verdadeiro atraso com relação aos avanços que vínhamos conseguindo. Isto acaba separando um pouco as pessoas. Olha, tens o direito de acreditar no Deus que quiseres, mas dentro dos seus limites, na sua Igreja e tal.
JCV – Não basta não pagar imposto, ainda ter de pagar milhões para recepcionar e dizer que não é com dinheiro público? É com dinheiro público sim!
MBD – Sim, só a segurança que terão que deslocar para fazer o evento. Tanto que os Evangélicos não são contrários a isto, pelo contrário, estão cada vez mais fazendo as Marchas Para Jesus, elas deveriam ser proibidas, elas são homofóbicas, as pessoas não marcham pelo amor a Jesus, as pessoas marcham contra os homossexuais, as pessoas têm ódio contra os homossexuais.
JCV – Eu não me lembro de nada na Bíblia que Jesus tenha criado alguma marcha! Eu não me lembro juro! Eu conheço várias Bíblias, de várias culturas, porque eu gosto de estudar cultura, Ciência Política faz isto e eu não me lembro de nenhuma marcha que Jesus tenha promovido. Marcha contra os homossexuais, não me lembro dele ter feito isto!
MBD – Aliás, se estudar mais de perto ali nem tem esta condenação aos homossexuais!
JCV – Não tem! Ele pregava o amor ao próximo!
MBD – E depois, ele transformou água em vinho, ele não transformou vinho em água!
JCV – Está certo!
MBD – Seria o mais correto!
JCV – Está certo! Inclusive, na Bíblia diz que ele gostava de festas, bebia, gostava de festas! Porque os casamentos naquela época duravam três dias, coisa assim, uma semana, no mínimo três dias.
MBD – Casamento?
JCV – É, duravam dias, porque era uma festa aonde vinha toda a família da noiva, de todos os lugares, a família do noivo.
MBD – Eu gostaria muito de saber a origem disto! O porquê que a união de pessoas, que atende muito ao interesse das pessoas, que é algo instintivo, a aproximação de pessoas, porque que o Estado se apropria disto? No fundo, tinha que ser privado, mas todas as religiões, Deus e o Estado, acabam se apropriando disto.
JCV – Existe uma separação, dentro do Direito, no caso, a questão do que é casamento jurídico e o que é o casamento religioso. No casamento jurídico é permitido o casamento de homossexuais tranquilamente.
MBD – Esta é a decisão da Justiça!
 
 Rio Grande do Sul é o Estado pioneiro da causa GLBT no Brasil!
JCV – Primeiro a União Estável e agora o Casamento e agora a Adoção, que foi uma evolução do processo jurídico.
MBD – A Adoção já tinha sido anterior! O Rio Grande do Sul é o grande protagonista destas mudanças, tudo começou aqui no Rio Grande do Sul!
JCV – E a Sra. teve participação nisto!
MBD – É que na época eu integrava o Tribunal e eu era Presidente de uma das Câmaras de Família, foi onde nós atraímos todos estes Processos para dentro da Câmara de Família para poder julgar neste sentido. Eu participei do primeiro julgamento no Brasil que concedia direitos aos homossexuais!
JCV – Foi ai que a Sra. ganhou notoriedade nacional a respeito desta situação e ganhou especialização nesta área também!
MBD – É, eu comecei a me dedicar, porque eu trabalhava com família, eu trabalhava com Justiça e eu não consigo fazer justiça deixando alguém do lado de fora, neste sentido! Fiquei muito surpresa, por não haver processos na Justiça!
JCV – Apesar de ser natural, a Sra. ficou surpresa?
MBD – De não estarem dentro do âmbito do Direito de Família. Como é que eu estou aqui, julgando família e não estou julgando homossexuais? Ai eu fui pesquisar, fui ver e eles estavam fora, estavam lá no Direito das obrigações, como a sociedade de fato enxerga as uniões de mesmo sexo, como a sociedade faz, tirando a afetividade, por que a causa da união não é para conceber um negócio!
Batismos e Confissões controlam a sociedade, afirma Maria Berenice Dias!
JCV – As famílias não são nucleares, como gostaria que fossem os americanos na década de setenta, família nuclear, pai, mãe e casal de filhos, ela não se comporta desta maneira!
MBD – Pois é, é isto que a Igreja nos faz acreditar! É o que a Igreja quer!
JCV – Que seja família nuclear?
MBD – Para procriar e aumentar o número de fiéis! Esta é a finalidade da Igreja, de se apropriar. Por exemplo, o Batismo, não existe religião sem Batismo, ou seja, rotula aquela pessoa naquela religião. Se não batiza, a responsabilidade deste ato é dos pais, não da criança, mas se não batiza a criança era condenada a ficar no limbo! Eu falei tão mal do limbo que eu acho que foi por isto que acabaram com o limbo, mas, acabaram com o limbo, mas, as crianças não vão para o céu! Elas ficam aqui.
JCV – No purgatório.
MBD – Não sei onde é, mas no céu não é! Agora, alguém paga por um crime que não cometeu, o que é absolutamente injusto, porque se os pais pedem perdão eles vão para o céu, a criança não a criança vai continuar no limbo! Porque é rotulado deste modo?
JCV – E a questão também de confessar também ao Padre ou ao Líder Religioso os pecados para ser perdoado, na verdade é um controle social, por que você está primeiro, agindo de um modo hipócrita, digamos assim, pois cometi o pecado, posso cometer quantas vezes eu quiser desde que eu vá lá e me confesse, então você está permitindo atos de ruptura social. Existem regras, existem leis culturais, leis sociais, leis mesmo e estas leis elas são quebradas diante de posturas e condutas humanas e a partir do momento que você quebra estas posturas você vai na Igreja, se confessa, o Padre, o Pastor te defende, te isenta de culpa, inclusive dos crimes, ai nos Presídios e daí diz: “Tudo bem, confessei, sou inocente, agora estou perdoado por Deus, posso começar tudo de novo!” Só que é uma forma de controle!
MBD – É isto que eu ia dizer, a Confissão foi criada para o Controle Social! As pessoas vão lá e contam a sua vida!
JCV – Ai o Padre fica sabendo tudo, o Pastor fica sabendo tudo! Depois usam isto!
MBD – Eles transformaram em um pecado a questão da ordem da sexualidade. Qual é a maioria dos objetos das religiões? Então é uma forma de domínio social! Você pode fazer tudo, mas obrigam as pessoas a confessarem.
JCV – E neste controle, eles têm o controle do povo, por isto a manipulação, inclusive dos votos!
MBD – Sim, da sociedade! Eles sabem tudo, as pessoas têm que confessar!
JCV – Daí o motivo das religiões estarem perdendo adeptos diariamente, a respeito desta conscientização?
MBD – Não, acho que esta conscientização não existe! A Igreja está perdendo porque ela não soube evoluir, até hoje ela não aceita que as pessoas construam novas uniões. As pessoas se separam, se divorciam, constroem um novo relacionamento e a Igreja não aceita isto, sobre pretexto de serem excomungados!
JCV – Independente de serem homossexuais, bissexuais ou terem poligamia ou poli-afetivos.
MBD – Ou de serem heterossexuais, as pessoas que se separam não são aceitos! Excomungados! Inclusive, eu soube recentemente que a Igreja está negando aos filhos de pais separados fizessem a primeira comunhão, está assim colocando os filhos contra os próprios pais! Qual é o simbolismo, o que é excomunhão?
JCV – Fico pensando se Jesus, me lembro de uma história, não sei se é verdade, dizem que é, que Carl Marx, uma vez vendo algumas condutas de teóricos Marxistas, se diziam teóricos Marxistas, teria dito: “Se isto é Marxismo eu não sou Marxista!” Marx! Imagino Jesus Cristo, voltando a terra e olhando isto, dizendo assim: “Eu voltei!” Ah legal, Jesus voltou! “Sim, eu voltei, só que isto ai não é Cristianismo!”
MBD – É, este ódio contra homossexuais com certeza não é cristianismo!
JCV – Com certeza!
 
 Modelos sociais impostos causam constrangimento, afirma Maria Berenice Dias!
MBD – Sabe, é algo absolutamente injustificável! Qual é a resistência? É a pessoa não copiar o modelo imposto! Agora eu até recebi um convite de uma formatura e nele define o traje que eu devo vestir, ali fala traje passeio completo. Por que a pessoa não pode escolher com que roupa ir? Por que as pessoas precisam ir todas iguais? Enquanto isto existir a gente está tentando colocar as pessoas dentro de determinados padrões! Te convida para uma festa, mas determinam: “Olha, você vai com tal roupa!” se ela não tem a roupa ela não vai! Então eu quero que vá a pessoa ou a roupa da pessoa?
JCV – Eu me lembro, isto é uma coisa antiga, me lembro que tinha festas de boate que eu não podia entrar por que eu não tinha sapato, eu tinha ido de tênis, mas eu queria dançar, queria curtir a festa.
MBD – Mas até hoje existe, aqui no nosso Tribunal de Justiça, há um patrulhamento da roupa que as pessoas entram.
JCV – Sapato não é confortável para dançar!
MBD – Eu acho que é pior, porque o tênis gruda no chão para dançar!
JCV – Ah é, mas depende do tipo de dança também! Dança de salão, realmente, o sapato é melhor!
MBD – Nos próprios Tribunais, quando eu fui fazer a sustentação oral no Supremo Tribunal Federal eu mandei fazer em uma Costureira um vestido para ir lá e estava linda, toda arrumada, mas eu não poderia entrar se eu não colocasse um casaco, vestida de homem, eles têm blazer para emprestar.
JCV – Gente!
MBD – Teve uma amiga minha que saiu e comprou uma roupa! E eu perguntei e calça de brim? Não, calça de brim pode entrar! Pois é! E pilchado será que vão barrar?
JCV – No Rio Grande do Sul não podem barrar por conta da Legislação!
MBD – Estadual, mas e em Brasília?
JCV – Em Brasília foi proibido! Era permitida a Pilcha até pouco tempo atrás, depois foi proibido, Pompeu de Mattos foi proibido, ele usava a Pilcha, lá no Congresso Nacional, por que ele dizia que no Rio Grande do Sul era traje de Gala, ele foi o primeiro Deputado aqui, através dele, se eu não me engano foi criada esta legislação, depois chegou lá no Congresso Nacional, como Deputado Federal e lá ele foi impedido de usar. E na época os nordestinos começaram a usar roupa de cangaceiro, dizendo que era típico da região deles, por conta disto, de não usarem mais roupas sociais, ternos, trajes, é que foi banido isto do Congresso Nacional!
MBD – Tem que usar a gravata, que por sinal a minha próxima campanha será contra a gravata!
JCV – Eu não estou de gravata aqui, agora!
MBD – O que significa a gravata, eu quero saber por que os homens não evoluíram?
JCV – A Sra. quer saber o motivo da gravata? O motivo da gravata era para tapar os botões!
MBD – Não, agora, antes era para não esquentar, então apertavam no pescoço, para não entrar o calor.
JCV – O lenço, que evoluiu para a gravata!
MBD – E gravata borboleta não tapa botão!
JCV – Não, não tapa! Mas na verdade a gravata borboleta são evoluções posteriores. O motivo, a evolução da gravata, o motivo da formação da gravata é porque os botões eram considerados roupas de baixo!
MBD – Ah, então está ai!
JCV – É, e eram roupas íntimas! Botão era considerado roupa íntima! Por que, na verdade, antigamente não existia “faicheclere” e a roupa íntima usava botão!
MBD – Isto eu não sabia. Eu quero saber por que os homens não mudaram? A quantas mil décadas vocês usam traje, gravata e camisa?
JCV – É que a gente não é Pokémon, as mulheres é que evoluem, os homens não!
MBD – Nós nos apropriamos da indumentária masculina sem que isto ferisse a nossa masculinidade. Eu estou de blazer!
JCV – Sim, o Caetano Veloso tentou usar saia em alguns momentos, para exatamente fazer este contraponto, mas, como ele é conhecidamente bissexual, pelo menos, passa esta imagem, ai os homens heterossexuais tiveram um pouco mais de dificuldade de aceitação deste processo!
MBD – Pois é, mas as vestes são todas saias, as togas dos Magistrados são saias, dos Padres são saias.
JCV – É, Padre usa saia! Pode não assumir, mas…
MBD – E Juiz de toga não usa?
JCV – Sim, é!
MBD – Então?
JCV – São determinadas roupas…
MBD – Quer dizer que na hora de se enfeitar eles se vestem de mulher!
JCV – Bom, vão ser duas ou três entrevistas, por que eu vou ter de repartir isto em partes, como diria Jack o estripador, para poder caber, mas está bom, na internet dá para colocar na íntegra, depois a gente vai cortando em partes para que o pessoal possa ir apreciando dentro do Jornal, mas vai ser muito gostoso de ler, esta é uma das melhores entrevistas que eu já fiz até hoje. Eu lhe agradeço, muito obrigado.
MBD – Obrigada!

MBD – Dra. Maria Berenice Dias
JCV – Jornal Correio de Viamão – Antonio Roberto Vigne – Cientista Político e Colunista Politico
Fotos: Juliane Buffon

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